Especial: Hábito de leitura | parte 1 📚
Como melhorar meu hábito de leitura? Precisamos de tempo para fechar o livro? Leituras compartilhadas e clubes do livro. Lista de livros sobre ecologia, lista sobre livros de viagens.
Olá!
Para começarmos o ano com empolgação, preparei um especial sobre um tema muito procurado nas redes: hábito de leitura.
Nesta primeira parte do especial, trato a questão de forma panorâmica, colocando uma pergunta paradoxal: será que o problema todo não é arranjar um tempo para fechar o livro? Também comento sobre leituras compartilhadas e os famosos clubes de leitura.
Ainda trago duas listas de leituras: livros que falam sobre ecologia e livros que falam sobre viagens — foram títulos selecionados com cuidado e pesquisa.
Aproveito para desejar ainda um maravilhoso 2024.
Cheio de sonhos e livros, que a pilha nunca diminua!
Procrastinemos com classe.
Um minuto, vamos comemorar!
Preciso compartilhar contigo uma alegria, que é nossa: quase batemos a primeira meta no Apoia.se! Isso garante que manter a newsletter aberta para todas as pessoas, ou seja, sem inserir paywall! 💃
E isso também permitirá que realizemos encontrinhos on-line mensais.
https://apoia.se/anacronista
Muito obrigada a quem apoiou, repassou a newsletter, comentou, leu, enfim, despendeu a rara energia anímica com o projeto (e a anedota: tinha certeza que tudo seria um retumbante fracasso. Assim, pedi para o boy apoiar, uma espécie de trapaça. Ele falou, “claro, manda o link”. Não mandei. Não trapaceei. Deu tudo certo. Obrigada de coração, gente!)
Ler com mais tranquilidade vai ser o tema do primeiro Encontrinho da Anacronista. No 6 de fevereiro, terça, das 19h às 20h. Os próximos: 12/3, 9/4, 14/5 e 11/6. Conforme combinamos, é gratuito e igual na vida real, não fica nada gravado. On-line e via Zoom.
Hábito de leitura
Um especial para o início do ano
Fazemos aquela linda promessa de Ano Novo, “quero ler mais”, e não está muito simples de cumprir. Foi o maléfico algorítmico? Foi o preço do supermercado? Foi o excesso de trabalho? Foi a ameaça de alguma catástrofe climática? Foi o amor? Vivemos sob imensas pressões no capitalismo enlouquecido do século 21. Assim, antes de tudo, receba meu abraço.
Como ler é uma de minhas profissões, sendo parte significativa de tudo o que faço, decidi elaborar um especial da Anacronista com três edições sobre o tema. Sei que é um assunto procurado, pois foram os posts mais lidos em meu Instagram em 2022 e também em meu site.
Minhas credenciais são duas: faço pós-doutorado em teoria literária, ou seja, leio tanto livros de crítica quanto livros de literatura (juro que são pilhas e pilhas); e sou escritora, o que me faz realizar pesquisas imensas e ler de clássicos a contemporâneos, passando por rótulos de pacote de aveia.
Mas, Ana, “hábito” não é uma palavra forte?
Não deveríamos ler por prazer?
Olha, eu uso essa palavra chatonilda mesmo. Há muitos dias em que não estou com a mínima paciência para ler, meu foco está uma titica de galinha, mas é respirar e mergulhar. Vamos reconhecer ainda que muita gente lê por obrigação.
No mais, você pode usar a palavra que preferir, inclusive, pode depois comentar qual palavra seria a sua preferida ou outra mais adequada, sei que é um ponto que gera conversas significativas.
Um hábito que faz bem ao coração
Parece que faz bem mesmo! “Uma pesquisa feita em 2009 pela Universidade de Sussex revelou que ler por apenas seis minutos já ajuda a reduzir em até 68% os níveis de estresse”, cito a revista Galileu.
A boa notícia: você já lê muito
Bem, estamos conversando por meio de texto. Muitas das nossas atividades diárias passam pelo ler: no computador o dia inteiro, no e-mail, celular e por aí vai.
Talvez você leia em uma parcela significativa do teu dia. Já parou para pensar? Mesmo que vídeos, audiolivros e mensagens de voz tenham cada vez mais espaço, a leitura faz parte do mundo do trabalho, da informação e do lazer. E a transcrição de áudio também se intensificará em breve.
Agora vem o essencial desta newsletter: o que nos impacta, na realidade, nem é a quantidade de leitura. E sim a qualidade.
Para gozarmos todos os benefícios de ler, mesmo um material técnico, precisamos ter um tempo para divagar, matutar, refletir, imaginar.
A falta do tempo é a de fechar o livro
Acredito que o grande problema de todo esse papo de “hábito de leitura” seja nossa falta de tempo próprio. O tempo no qual fechamos o livro e exercemos nossas maravilhosas faculdades mentais de divagar. Quando a leitura se completa. Quando guardamos na memória o lido. É isso que nos falta.
Estamos sempre trabalhando para os algoritmos, rolando telas infinitamente para que nos entuchem algum tipo de porcaria de vender. Ou estamos lidando com o trabalho excessivo, inclusive o doméstico. Assim, o complexo é encontrar um tempo nosso. A leitura precisa desse tempo de reflexão diante de um texto recém-lido, que pode ocorrer até durante uma caminhada pela rua. O tempo em que finalmente tecemos relações profundas sobre o que lemos.
Assim, a retomada do hábito de leitura passa paradoxalmente não por ler em maior quantidade, mas ter um instante destinado a parar e pensar.
Inclusive, te convido a respirar e pensar um minutinho no que acabou de ler.
Será que não estamos devorando conteúdo demais? Justamente procurando um alívio contra sabe-se-lá-o-quê?
Meu grande desejo para 2024 é que a gente possa respirar entre uma leitura e outra, degustando esse maravilhoso prazer da vida, ao qual literalmente dedico meus dias.
Os livros e as amizades
Esta dica aparece em 100% de posts sobre “como ler mais”: compartilhar sua leitura com outras pessoas. Faz sentido, pois cultivar laços afetivos por meio de livros realmente nos incentiva a ler com mais frequência. E até com maior envolvimento.
Cada livro completa-se com sua leitura. Afinal de contas, um livro não passa um objeto inanimado até que a mágica aconteça. Apesar disso, há pessoas que acham desagradável a sensação solitária. Ou querem muito compartilhar as próprias impressões. Assim, faz bem conversar.
Já vamos chegar aos clubes de leitura. Mas antes, queria falar do benefício daquela conversinha à toa.
Pode ser uma conversa fugaz puxada com gente desconhecida, seja em transporte público ou livraria, por conta de uma capa de livro. Ou mesmo bater um papo com colega de trabalho sobre determinada obra. Aceitar a indicação da equipe da livraria e depois voltar para trocar impressões. Até puxar assunto com crushes. Olha, se tem algo que as pessoas adoram é dar opinião (foi por isso que criaram a internet).
Vale até confessar a quem nos quer bem, “gente, não consigo ler esse livro que vocês gostaram”. É possível que, escutando outros pontos de vista, descobrimos um novo livro dentro daquele. Ou só reforçamos, “não era para mim”.
Agora, vamos falar dos maravilhosos clubes do livro. Atividades conjuntas de leitura que ajudam não só a conhecermos nossa próxima leitura e sairmos da zona de conforto, mas também criam grandes amizades.
Há muitos formatos possíveis. Podem ser organizados por amizades, por editoras, por grupos de pesquisa, por empresas de assinaturas. Podem ser ligados a livrarias, a clubes esportivos, a instituições culturais, a bibliotecas, a escolas de idiomas. Podem ser pequenos, formado por duas pessoas ou três. Ou imensos. No Brasil, é impossível esquecer, por exemplo, a magnitude do Leia Mulheres, que fará dez anos no ano que vem, segundo o site, uma história traçada com mais de 400 mediadoras e por mais de 100 cidades.
Por fim, aquela manchete do PublishNews do final do ano passado foi aterradora, eu sei (“apenas 16% da população brasileira é consumidora de livros, aponta pesquisa inédita”). Para mim, clubes do livro estão em algum núcleo muito importante da mudança possível, o lugar de recarregar energias e compartilhar paixões.
As próximas edições
Para nosso especial da Anacronista sobre Hábitos de leitura, pesquisei os seguintes tópicos:
Ler por obrigação
E quando ler me dá sono?
Ler por deleite
Leitura de poesia
Diário de leitura
Começar aos poucos
Obras curtas geniais
Catataus para desfilar
O que faltou? Vou adorar ler comentários e sugestões :)
📚 Leituras sobre ecologia
Para quem gostaria de engrenar leituras, o Filamentos já tem sua lista para o semestre — vamos para o terceiro ano de atividade!
Neste semestre, trabalharemos com prosas curtas na ficção e sempre há uma obra de não ficção. O Filamentos é uma atividade para conversar sobre livros e ecologia. A curadoria é minha, com a produção da editora Bandeirola. Não é preciso ler antes dos encontros. Para participar, basta apoiar o projeto no Catarse.
On-line, mensal, aos sábados, das 14h
3 de fevereiro: A terra dá, a terra quer, de Antônio Bispo dos Santos (Ubu); conto “Má sorte”, de Paulliny Tort, publicado no livro Erva Brava (Fósforo)
2 de março: Uma outra ciência é possível, de Isabelle Stengers, trad. Fernando Silva e Silva (Bazar do Tempo); conto: “Teia de aranha”, de Mariana Enriquez, publicado em As coisas que perdemos no fogo (Intrínseca).
6 de abril: Banzeiro òkòtó: Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo, de Eliane Brum (Companhia das Letras); conto: “Amor”, de Clarice Lispector (várias edições).
4 de maio: O decênio decisivo: propostas para uma política de sobrevivência, de Luiz Marques (Elefante); noveleta: Tufão, de Joseph Conrad, trad. Albino Poli Jr. (LPM, esgotado). Partiremos da análise de Malcom Ferdinand em Uma ecologia decolonial (Ubu).
8 de junho: vamos escolher depois. Saiba mais aqui
📚 Leituras sobre viagens
A Paula C. Carvalho e eu temos um clube de leitura na Livraria da Tarde: o Leituras Extraordinárias. Em 2024, estamos de volta para conversar sobre uma de nossas paixões: viajar.
28 de fevereiro, quarta: Samarcanda, de Amin Maalouf, trad. Marília Scalzo (Tabla). Contaremos com a participação de Jemina Alves
14 de março, quinta: Todos os caminhos estão abertos, de Annemarie Schwarzenbach, trad. Giovane Rodrigues (Mundaréu).
18 de abril, quinta: Marinheira no mundo, de Ruth Guimarães (Primavera editorial)
27 de maio, segunda: Exploração, de Gabriela Wiener, trad. Sérgio Molina (Todavia)
27 de junho, quinta: Indígenas de férias, de Thomas King, trad. Davi Boaventura (Dublinense)
11 de julho, quinta: Direito à vagabundagem: as viagens de Isabelle Eberhardt, de Paula Carvalho, trad. Mariana Delfini (Fósforo).
Os encontros são gratuitos e a Livraria da Tarde está no coração de Pinheiros, na cidade de São Paulo. Para participar, não é necessário se inscrever previamente, nem ler antes o livro. Basta aparecer. Livraria da Tarde. Rua Cônego Eugênio Leite, 956, Pinheiros, São Paulo (SP). Horário: a partir das 19h. Links: Grupo do WhatsApp (somente lembretes antes dos encontros) e agenda no Google Calendar.
Outra notícia boa: para quem gosta de escrever
O financiamento coletivo do livro Manual de sobrevivência na escrita, do George Amaral e meu, junto com o caderno de citações Escrever para quê, org. Sandra Abrano, terminou com sucesso e com o apoio de 191 pessoas. A campanha foi emocionante e agradecemos muito! O livro segue em pré-venda, logo mais vai para a gráfica.
Agenda
Campinas, 25/1 | Lançamento de Herbário da memória
Lançamento do livro de poesia de Katia Marchese, editado pela Quelônio. Participo da mesa com muita felicidade. A partir das 18h30. Livraria Candeeiro. R. Dr. Viêira Bueno, 170, Cambuí, Campinas (SP)
São Paulo, 30/1 | Noite na taverna na Livraria da Tarde
Tive a honra de escrever o posfácio de Noite na taverna, de Álvares de Azevedo, o clássico dos clássicos, da edição que comemora o centésimo título da Carambaia!
Vamos conversar sobre essa edição deslumbrante: a Silvia Nastari, que assina o projeto gráfico, e eu, com a mediação da Luciana Gerbovic. 19h, Livraria da Tarde. R. Cônego Eugênio Leite, 956, Pinheiros, São Paulo (SP).
Sincrônicas
👟 A vida e a corrida. Logo mais sai nova edição da newsletter, contando como foi a São Silvestre, a famosa corrida de rua para se despedir de um ano de treinos (e começar outro).
🗞️ A Vértebra Latina está também no Substack! A Pilar Bu traz sempre maravilhosas dicas de livros da América Latina e vale muito acompanhar! Inclusive, li Exploração, da peruana Gabriela Wiener, por conta da Pilar (e adotamos o livro no Leituras Extraordinárias).
🗞️ A Cláudia Lamego trouxe um depoimento sobre sua participação em Clubes do Livro, tudo a ver com este assunto.
Sobre esta edição
Para escrever este especial sobre leitura, que terá três partes, foi necessário fuçar nos mais diversos posts com dicas internet a fora, vasculhar redes sociais, infernizar amizades e reparar nas outras pessoas, organizando um mapa mental de tópicos e selecionar o que achei mais relevante.
Para valorizar todo o empenho, agradeço se puder encaminhar essa newsletter a outras pessoas. Isso já faz uma imensa diferença!
Clique para encaminhar essa edição por WhatsApp
(e espero que esse link funcione!)
Muito obrigada
Agradeço sua leitura! Tudo isso só é possível, pois existe você do outro lado.
Se gostou da edição:
❤️ Considere apoiar a Anacronista: https://apoia.se/anacronista
Assim, mantemos a newsletter tinindo, com o conteúdo aberto a todas as pessoas.
❤️ Deixe seu comentário sobre suas atividades de leitura.
❤️ Encaminhe para pessoas legais!
Canais
Acompanhe meu canal no Telegram: https://t.me/criatividade
Siga meu novíssimo canal no WhatsApp
Me dê um alô no Instagram: @anarusche
Em 2024 e em todos os dias,
todo poder à alegria,
ao desejo e
à imaginação!
O que faltou?
Bibliotecas públicas. Um lugar onde custo do livro é zero e mesmo que você não possa ficar e ler qualquer um pode retirar um livro e renovar a leitura até terminar.
Adorei as tuas reflexões e estou entusiasmada para acompanhar as próximas. Já não faço metas numerárias de leitura há um tempo, mas foi assim que consolidei a prática ou o hábito. Meu único objetivo é ler com mais qualidade. E aí entra não só o tempo entre leituras, como disseste, mas a leitura ativa: marcar, anotar, escrever a respeito, conversar com outras pessoas. E não engatar o próximo livro sem absorver o atual. Não é uma corrida, embora o capitalismo faça ser. Obrigada!