Uma ode à amizade e aos pequenos acontecimentos do ano 📚
Retrospectiva, amor e o papel da cronista. Dicas de livros e filmes. Resultado da pesquisa. Curso em janeiro.
Olá,
Mais uma edição da Anacronista chegou! Excepcionalmente hoje será crônica, pois o tema é final de ano.
Canto uma ode à amizade, explico o propósito inicial desta newsletter (e como isso mudou ao longo do tempo) e listo acontecimentos anotados durante os últimos 12 meses. Trago resultados da pesquisa de opinião que veiculei e planos para o futuro. Não faltam dicas de livros e filmes, além da frase do ano.
Com muito amor,
Ana Rüsche
✎ Curso: Prática de escrita
Comece o ano escrevendo!
Vamos começar 2025 cumprindo promessas de Ano Novo. De 13 a 24 de janeiro de 2025, segundas, quartas e sextas, às 8h da manhã em Brasília, tudo on-line. Inscreva-se agora
Retrospectiva: o que nos faz sermos quem somos
Primeiro, a amizade
Esse ano foi duro. Enfrentei uma longa hospitalização de uma pessoa querida por meses. Nos períodos mais difíceis, não me permitia ficar alegre. Como se alegrar quando tudo parece ruir? Entretanto, embora a tristeza seja essencial nos balanços da vida, não é possível fazer dela uma morada.
Traçando a retrospectiva anual, compreendo que só consigo te escrever aqui de meu sofá, plena e feliz, meses depois, por dois motivos. Primeiro, as coisas no plano da saúde ficaram bem. Depois, a amizade sempre me resgatou dos lugares sombrios. Ofereceu carona. Telefonou. Perguntou como estava. Se animou com coisas bestas. Me deu cama e comida. Fofocou. Essa força insuspeita da comunidade, dos braços que escolhemos abraçar, dos ouvidos que alugamos.
Quando inventei essa publicação há dois anos, o objetivo era divulgar meu trabalho como escritora. Tive newsletters por alguns períodos, mas queria criar um espaço mais sólido com a Anacronista.
O resultado? Nem sei se consegui muito bem cumprir o tal objetivo marketeiro, mas houve um efeito colateral: com certeza mantenho minha rede de amizades mais próxima. Reatei diálogo com pessoas queridas. Conheci novas pessoas. O efeito colateral logo se tornou o efeito principal.
A perfeição do acaso. Nossos planos com seus próprios planos por dentro.
Cronista, uma função social?
Agora, no bar, na rua ou em alguma situação inusitada, vira e mexe alguém pede para mim de forma enfática: “anota isso aí para a tua newsletter”, ou ainda me aconselha, com cara séria, “isso dá uma edição toda, hein?".
Como é algo recorrente, fiquei refletindo sobre a beleza disso. Existe reconhecimento maior do que sermos vistas como a cronista? A que mantém, por alguns dias, nossa pequena insignificância dos dias registrada em palavras (que também se perderão)?
Toda comunidade precisa de alguém que narre seus feitos e desfeitos. Daí uma das formas de homenagear a amizade, que me ergue nessa rede mágica, na qual pairo neste sofá, é seguir te escrevendo.
Procuro manter, enquanto digito, a energia da vida e o coração calmo, pois cuidar disso é também cuidar de quem lê.
Pequenos e imensos acontecimentos de 2024
Doze anotações para doze meses:
Arrumei minha biblioteca.
Tomei vacina da dengue.
Aprendi a desvirar um barco a vela.
Cheirei as roupinhas de meu cachorro falecido.
Escrevi um artigo sobre artrópodes.
Tomei sol de olhos fechados.
Minha mala foi minha morada.
Peguei o metrô em Brasília.
O fogão novo da minha mãe foi entregue.
Meditei.
Cruzei os portões vermelhos da Cidade Proibida.
Vi a florada dos ipês amarelos incendiar o céu.
Uma época adorável, uma época detestável
Descobri que é comum as pessoas detestarem essa época. Compreendo. Podem nos visitar sentimentos do terrível final de tudo, de incompletude da vida, de comparação com outras pessoas, de cansaço acumulado. Se para você a coisa fica assim, queria deixar meu abraço. A arte pode ser uma boa amiga nessa hora. E que tuas amizades possam te resgatar desses lugares.
Um desejo para 2025
Que a gente possa observar a mágica do mundo sempre em boa companhia.
Um viva às pessoas que amamos!
Dicas de livros e filmes
Seguem algumas recomendações para esses dias fora do tempo.
📽️ Anatomia de uma queda
Dirigido pela francesa Justine Triet, é um filme sobre julgamento de tribunal e estrelado por Sandra Hüller, no papel de uma escritora que tenta provar sua inocência na morte do marido. Demorei para gostar do filme. Assisti no cinema. Joguei o saquinho de pipoca fora. Dei um passeio pela Av. Paulista. Fui para casa. Dormi. Acordei. Tomei café. Daí gostei do filme. Acho que a graça é como a obra nos faz pensar, pois coloca a própria ideia de narração sob suspeita o tempo todo.
📽️📚 Ainda estou aqui
Enquanto esse Oscar não sai, vale ler Ainda estou aqui, o livro de Marcelo Rubens Paiva (2015), a partir do qual foi feito o filme de Walter Salles (2024). A montagem da linha cronológica do enredo é diferente, trazendo uma outra perspectiva sobre a mesma história.
📚 A mais recôndita memória dos homens
O livro de Mohamed Mbougar Sarr é uma boa leitura para esse período mais calmo, um livro sobre a busca de um livro. Quase engatei Os detetives selvagens, do Roberto Bolaño, na sequência, as duas obras dialogam demais entre si. Há algumas referências usadas pelo Sarr que não peguei, pois me falta contexto, mas é daqueles livros que mostram o poder da literatura vibrando na página.
Trecho da sinopse da editora: “Diégane Latyr Faye, um jovem escritor senegalês, descobre em Paris um livro mítico publicado em 1938: O labirinto do inumano. Seu autor, o misterioso T.C. Elimane, desapareceu sem deixar vestígios depois que uma escandalosa acusação de plágio mobilizou a comunidade literária francesa dos anos 1940". Trad. Diogo Cardoso, Fósforo.
📚 O despertar de tudo
No Filamentos, meu grupo de discussão sobre literatura e ecologia, começaremos discutindo, em fevereiro, os dois primeiros capítulos de O despertar de tudo: uma nova história da humanidade, de David Graeber e David Wengrow. Um livro que mudou várias de minhas ideias para as pesquisas.
Sinopse da editora: “Neste clássico instantâneo e best-seller internacional, David Graeber e David Wengrow propõem uma nova versão de nossa história — do desenvolvimento da agricultura e das cidades às origens do Estado, da democracia e da desigualdade.”. Trad. Claudio Marcondes e Denise Bottmann, Companhia das Letras.
📚 Ferozes melancolias
Não posso deixar de indicar meu livro mais recente, lançado em agosto. Traz reflexões sobre a escrita, a perda, a amizade, assim como a literatura. Editora Rua do Sabão.
Imagem do ano
A medalha de ouro de Receba Andrade, agora a maior medalhista da história do Brasil nos Jogos Olímpicos.
Frase do ano
"La honte doit changer de camp"
A vergonha deve mudar de lado. Tão profunda essa frase indignada de Gisèle Pélicot. Conforme resume matéria da BBC sobre a mulher de 72 anos, num caso que abalou a França, “ao abrir mão de seu direito ao anonimato, ela se tornou um símbolo de luta e coragem, dizendo que queria fazer com que a ‘vergonha trocasse de lado’, da vítima para o estuprador.” A recusa em sentir vergonha, não é forte?
Resultados da pesquisa
Agradeço às 22 pessoas que responderam a pesquisa “Newsletter: o que você gostaria de ler?”. As opiniões de vocês moldaram meus planos futuros, consegui estruturar alguns eixos temáticos para 2025 e fiz correções de rota, muito obrigada!
Ouvindo comentários, capricharei nas dicas de leitura. Atendendo a pedidos, quando for possível, trarei algumas discussões sobre a questão ecológica (é meu tema de pesquisa).
Sobre a pergunta “Por qual motivo você apoiaria financeiramente a newsletter?", as opções mais frequentes foram “para dar uma força a esse trabalho” e “para acompanhar o trabalho da autora”, respostas que enchem o coração de alegria. Mas a que mais me tranquilizou foi sobre a frequência: foi praticamente unânime que está bom assim.
Deixarei o formulário aberto esse ano se alguém ainda quiser dar seu pitaco.
O que vem por aí na Anacronista
📖 O especial A escrita e a máquina será veiculado mensalmente, de janeiro a março. Trata-se de uma investigação sobre o uso das AIs na escrita, em especial a literária. Um assunto espinhoso e incontornável.
Quem apoiar a Anacronista vai receber algo exclusivo: um boletim detalhando o uso das ferramentas e dos prompts.
Se você não aguenta esperar, vale ler a edição da Segredos em Órbita, da Vanessa Guedes: Sensação de poder: curiosidade, computadores e inteligência artificial.
📖 A edição sobre minha última viagem a Porto Alegre, na qual abordarei os rastros da triste enchente de maio, além de sonhos, amores e pesadelos.
Para produzir essa edição
Foram necessários 12 meses de vida. Ainda precisei de 3h de escrita, duas para redação e uma para revisão. Precisei pagar um ingresso de cinema para assistir Anatomia de uma queda (o ingresso de Ainda estou aqui foi pago por uma amiga que foi comigo, muito amor). O livro do Sarr também foi um presente de um amigo (sou afortunada). A amizade é o que faz tudo isso dar certo.
Em especial, queria agradecer a todas as pessoas que apoiam esse trabalho 🧡
Vocês fazem uma diferença imensa no meu ano todo e na minha escrita.
✎ Curso: Prática de escrita
Comece o ano escrevendo!
Manhãs de janeiro, on-line. Saiba mais e inscreva-se aqui.
Muito obrigada!
Se gostou da edição, deixe um comentário:
🧡 Qual livro marcou o teu ano? E filme?
🧡 Você tem histórias bonitas sobre amizades? E sobre 2024?
🧡 Uma frase marcante do ano?
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Agradeço ainda se puder encaminhar a edição para pessoas legais. Vale postar stories do Instagram, repassar o e-mail ou restacar no app do Substack.
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Canais
Telegram: https://t.me/criatividade
Instagram: @anarusche
Ler é um engenho mágico, capaz de parar o tempo.
Obrigada por respirar comigo do outro lado. A leitura, essa magia antiga.
Ana, que maravilha poder contar com a amizade, um gesto, um pensamento, companhia mesmo que distante em um ano difícil. Quero dizer que você me inspira e me instiga a crescer. Obrigada! Deixo duas sugestões de leitura que me fizeram companhia esse ano duas: Verão dos infiéis, Dinah Silveira de Queiroz, e Puro, da Nara Vidal. Estivemos juntas em 2024 e estaremos juntas em 2025. Um abraço carinhoso
Que texto gostoso pra esse fim de ano ❣️