Timeline: linha do tempo, linha da vida 📚
Narcisista somos todos. A fusão de tudo que nos obceca. A invasão alienígena das AIs. Lançamento do “Carga viva” em São Paulo.
Olá,
Esta é a terceira e última edição do especial A escrita e a máquina. Quanto mais penso sobre o assunto, menos sei.
Não espanta que tenha eu começado a série com uma linguagem mais afirmativa (edição 1), tenha recorrido às parábolas de causos da vida prática (edição 2) e agora termine com pensamentos soltos, tentativas de aforismos e alienígenas (edição 3, a atual).
No mais, agradeço a todas as pessoas que deram uma força ao lançamento de meu romance novo, o Carga viva. O livro chegou à casa de muita gente e recebo fotos de sofás, mesas, gatos e cachorros. Obrigada!
Com carinho,
Ana Rüsche
Lançamento do Carga viva em São Paulo
Amanhã, 8 de maio, quinta-feira, das 19h às 21h.
Livraria da Tarde
Convidei duas pessoas queridas para falarem sobre o livro: a poeta Kátia Marchese, grande amiga que inclusive leu os poemas em primeira versão; e o jornalista e escritor Nathan Fernandes, quem ainda não conheço pessoalmente, mas sou fã da Punk Yoga, newsletter dele, e decidi o convidar. O Nathan escreve sobre ciências e direitos humanos para vários veículos, mora em Ubatuba e vai ser lindo dar um abraço nele.
A Livraria da Tarde é das aconchegantes — se você ainda não a conhece, vale a visita.
Agradeço se puder repassar o convite a pessoas ou me dar um abraço por lá.
Carga viva, romance, editora Rocco, 216 páginas
8/5, qui, 19h-21h. Livraria da Tarde. Rua Cônego Eugênio Leite, 956, Pinheiros. Estação Fradique Coutinho do metrô.
Timeline: a linha do tempo, a linha da vida
10 colocações sobre algo que se parece com uma invasão alienígena
1.
A timeline, a linha do tempo, carrega no nome a própria vida. Enreda-nos, com sua qualidade de linha de pesca existencial, cujo anzol já mordemos, hipnotizados por seu brilho, a nos puxar até as profundezas das luzes.
2.
Muito se fala do vício em dopamina, a recompensa imediata que as redes sociais nos fornecem. Mas esqueceram do brilho do anzol, e se nos derem um mundo que absolutamente nos reflete?
3.
Como Narcisos enredados, o brilho alienígena reforça eternamente nossas próprias convicções, gostos e ódios.
A isca do anzol é um canibalismo.
O alimento somos nós.
4.
O brilho do anzol mágico da timeline é constituído pela fusão de tudo que nos obceca. A rede de pesca moldada pela digital de nossos desejos e obsessões mais secretos, tão íntimos quanto o tempo de vida.
5.
Seja no TikTok, Instagram ou logo mesmo aqui no Substack, os algoritmos entregam incansavelmente o que mais gostamos. A música-tema da adolescência. O momento-chave da perda da inocência.
Agora mesmo num vídeo de venda de roupas.
6.
Narcisista somos todos. Não por escolha, mas pela arquitetura das redes. Cada um atrapado num casulo de luz, nas profundezas do que um dia desejou. Onde achamos que caminhamos na paisagem é no beco de espelhos.
7.
Quando cada um se alimenta do canibalismo de mastigar com as próprias carnes, quando cada um caminha pelo brilho do beco de espelhos, como podemos encontrar terreno comum para pedir a jornada de 4h?
8.
Aparentemente podemos exercer toda a liberdade de usar ou não usar uma AI. Assim como as redes sociais. Ou o celular.
Aparência é palavra dúbia.
9.
É como a velha história de invasão de seres do espaço. Quando nos damos conta, os alienígenas em nosso planeta somos nós.
10.
O outdoor do século passado grita, “proteja-me do que desejo”.
Sincrônicas: 7 textos para você ler quando quiser
Muita gente escreve sobre as AIs e recolhi coisas interessantes ao longo dos últimos tempos. Foram textos que me ajudaram a pensar o tema e a reduzir cada vez mais os parágrafos acima.
“Artistas são classe trabalhadora. Todo dia é um dia em que o óbvio precisa ser dito.” Renata Corrêa
“Ghibli por IA e meu primeiro romance. Dia da Mentira, apropriação e os filmes de Miyazaki que escolhi copiar.” André Balbo
“Substituindo amigos por inteligência artificial. Novos passos da Meta, construir um coletivo, conversa entre amigos.” Deborah Fortuna
“Como sobreviver à Broligarquia. Tech bros, autoritarismo e o que fazer a respeito para nos defender desses pulhas.” Vanessa Guedes
“Proletários de todos os pixels, uni-vos! A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como prompt”. Bruna Leão
“Por que começamos acelerando áudios e agora queremos acelerar as pessoas” Michelle Prazeres
O velho e eterno libelo Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais, de Jaron Lanier
Obra da Jenny Holzer:
Times Square, 1986. Concepção e obra de Jenny Holzer. Foto de John Marchael
Agenda
FLIMA — Festa Literária da Mantiqueira | Santo Antônio do Pinhal (SP)
16 de maio, sexta, 19h, Emergência climática: os limites da palavra
Converso sobre o Carga viva e sobre minhas pesquisas na área de ecologia com a poeta que admiro, Prisca Agustoni, autora de Quimera e de O gosto amargo dos metais. A mediação é da Paula Carvalho. Informações
Carga viva na BDB | Brasília
29 de maio, quinta, 19h
Conversa sobre o Carga viva na Biblioteca Demonstrativa Maria da Conceição Moreira Salles (BDB), do Ministério da Cultura, em Brasília, com Liara Oliveira, escritora, professora e pesquisadora. Haverá ainda uma leitura de Kaliedoscópica na abertura e transmissão ao vivo pelo YouTube.
Bienal do Livro | Rio de Janeiro
15 de junho, domingo, 11h
Estarei autografando na sala de autores, estande da Rocco. Se estiver por lá, não deixe de me dar um alô.
Porto Alegre
7 e 8 de junho, sábado e domingo, voltarei à capital gaúcha para falar do livro e ministrar um curso de escrita. Detalhes em breve.
Outras edições do especial A escrita e a máquina
📒 Edição 1. “A escrita e a máquina: do pecado aos esteróides”. Comecei abordando como as Inteligências Artificiais podem afetar a leitura, ao gerar um excesso de conteúdo. Também trouxe a “bostificação”, termo de Cory Doctorow, criado para explicar o declínio na qualidade do conteúdo de uma plataforma on-line. Por fim, tratei dos perigos do binarismo do pensamento e a pergunta, “é possível filosofar em aiês?”
📒 Edição 2. “A escrita e a máquina: a paixão pelo simulacro”. Narrei uma ocorrência vexaminosa: apaixonei-me por um pássaro artificial (sem saber que era um ser inanimado) e terminei entendo o pobre protagonista de O Homem da Areia, de E. T. A. Hoffmann. Contei ainda que um advogado teve a ousadia ou a insanidade de me admitir que tanto faz o que um robô de texto escreve, ao substituir seu trabalho, “o importante é o trabalho estar feito". A verdadeira ameaça: o risco de deixar que a máquina decida o que deve ser dito.
Para produzir esta edição
Escrever o especial A escrita e a máquina, com três edições da Anacronista dedicadas ao tema das AIs, não foi simples, algo como escrever montada num cavalo bravo corcoveando ao mesmo tempo em que se segura uma bandeja cheia de xícaras. Ao mesmo tempo em que o assunto ganhou proeminência e novas facetas surgiram (por exemplo, a ideia do Zuckerberg de querer criar amigos imaginários via AI), muita gente trouxe o debate, assim, o tema se diluiu.
Esse texto, o último da série, começou com um rascunho longuíssimo, foi parar bem em 4 mil palavras. Mas achei que valia cortar fundo e trazer somente os argumentos mais relevantes, daí procurei escrever poucas frases com mais condensação.
As AIs ironicamente não me ajudaram em nada. Escrevem frases ainda muito artificiais ou forçadas. Sei que no ano que vem estarão afinadas, mas não foi dessa vez. Assim, desculpem desapontar por esse não ser ainda o texto ciborgue que talvez mereceria o fechamento da série.
Agradeço a todas as pessoas que apoiam financeiramente a Anacronista. Com a verba, pude testar muitas ferramentas e ter algum tipo de fé na jornada.
Muito obrigada!
Se gostou da edição, repasse para pessoas legais ou deixe um comentário:
🧡 Invasão alienígena não é a metáfora perfeita para a chegada das AIs? Vamos conversar.
🧡 Perguntas binárias: a luta de gigantes, como Godzilla versus Kong, é a mesma do algoritmo do Spotify contra o TikTok?
🧡 Aleatória: conseguiu folhear o Carga viva?
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Na próxima edição
Se tudo der certo, vamos falar de dinossauros na academia de ginástica. 🦖🦕
Ótimas dicas, subscrevi todos os Substacks.
Obrigado pelo restack, Ana, uma honra :)
Curiosamente, estou lendo o livro Psicopolítica, do Byun-chul Han, e no prefácio está justamente a frase "proteja-me do que desejo". Não à toa, claro!