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Fotografar e não enlouquecer
Para driblar a bad da ômicron, inventei um projeto: visitar livrarias, bibliotecas, bancas, enfim, voltar a conhecer uma cidade que era a minha e agora é nova e estranha.
Olá!
Sexta-feira depois do Carnaval (que não é bem o Carnaval), não sabemos se o ano começou ou não, mas estamos aqui! Março, 2022. Primeira newsletter do ano, uau!
⭐ Fotografar e não enlouquecer No início do ano, para driblar a bad da ômicron, inventei um projeto para o Instagram (@anarusche): visitar livrarias, bibliotecas, bancas, enfim, criei a hashtag #lugaresdelivros. Fotos do sebo da minha infância à biblioteca central de Boston (foto abaixo). Ando gostando de fotografar, uma ocupação despretensiosa na rede social em que todo mundo parece estar sob o poder de um forte psicotrópico, em que tudo é corações e elogios. De vez em quando, é muito bom.
⭐ Minha cidade mudou. E a tua?
Meu percurso padrão é de uma mulher no século XIX, ou seja, pedestre. Mas esses dias fui visitar a biblioteca do Sesc Av. Paulista, no coração da cidade de São Paulo. Foi necessário agendar duas semanas antes. No dia, chovia muito, mas persisti.
Fiz as fotos, publiquei no Instagram, uma felicidade psicotrópica que só. Na volta, com tênis encharcado, levei um olé de minha própria cidade. Você já reparou que nenhum lugar mais está igual? Então.
O bilhete único é uma espécie de salvo-conduto paulistano. Como tudo em São Paulo gira em torno de dinheiro, o tal salvo-conduto é uma forma de pagamento que integra ônibus e metrô. Você inclusive sabe quanto tempo alguém quer ficar na cidade quando descola um desses.
Entrei na estação Trianon-Masp para voltar para casa. Por dez anos, entrei naquela estação. Mas, agora, nada é igual.
Diante da catraca do metrô, passei meu bilhete único. Não passou. Fui ver o saldo, R$ 13,99. Estranho. Procurei carregar mais uns dez reais na máquina, não foi. Voltei à catraca. A funcionária me explicou entediada:
— Moça, esse teu cartão aí saiu de linha em setembro do ano passado.
Fazia tanto tempo assim que não andava de metrô? Na sequência, fico com ódio do Dória, desse sistema de cadastro com CPF, desse comércio de nossos dados, a venda de todas as nossas rotas sabe-se lá para qual empresa. Inferno.
Ok, sem cartão e com as meias molhadas, vou até a bilheteria comprar passagem. Peço um unitário, R$ 4,40. A funcionária me dá um troco, moedas e um comprovante. Aguardo o bilhete estreito de papelão duro parada, o guarda-chuva pingando. Depois de um tempo segurando a fila, insisto:
— Oi, faltou o bilhete.
— Não, tá na tua mão, gesticula a atendente pelo vidro grosso.
Olho minha própria mão, minha carteira e nada. Onde será que botei a bosta do bilhete? Aí, um moço gentil tatuado no pescoço, me explica:
— É esse papelzinho aí, moça.
Ainda segurando a fila, observo que o comprovante amassado vinha com um QR code. Aquela porra de papelzinho mole era o bilhete.
Que tonta. Envelheci dez anos agradecendo ao cara tatuado. Botei o QR code com ódio no visor da catraca. Luz verde. No banco de plástico no vagão, segurando o guarda-chuva, submergi nos fones, escutando o Bono Vox cantar, quando nós dois éramos jovens e invencíveis. Agora, só duas almas num vagão.
Essa foi minha crônica de desencontro espacial. Se quiser me contar a tua, adoraria ler!
⭐ Mudança climática e ficção científica Compartilho algo bem bonito: comecei o pós-doutorado no depto. de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP. O título da pesquisa é “O ecocídio em narrativas sobre o Antropoceno: ficção científica e mudança climática”.
Ainda sobre esse tema, em fevereiro, estive em Boston para a Boskone 59, convenção de fantasia e ficção científica, uma das mais antigas dos EUA. Participei de vários painéis, com destaque justamente o sobre mudança climática e narrativas.
Apesar das restrições, o dólar e a falta de mesa de bar, foi excelente a experiência, frutificará em histórias. De quebra, pude falar com e escutar várias vezes uma pessoa que admiro demais, o Ted Chiang, autor do conto que inspirou o filme “Arrival” (dir. Denis Villeneuve). Incrível, não? Começando o ano para valer.
⭐ Arqueologias literárias
Escrevi uma resenha sobre o "Arqueologias do futuro", obra do Fredric Jameson que finalmente foi traduzida ao português. É um livro sobre as relações entre a imaginação, seus limites e a crítica política imbricadas na literatura, tendo como centro obras de ficção-científica e obras utópicas. Recém-publicado pela editora Autêntica, dentro da coleção Ensaios.
⭐ Podcasts
O Incêndio na Escrivaninha, podcast glamuroso do qual faço parte a bancada, segue com sua temporada sobre acervos e coleções. Foram ao ar episódios sobre dicionários, enciclopédias e museus. Sem o Thiago Ambrósio Lage e a Vanessa Guedes ao meu lado na bancada e na vida, muitas coisas boas não se realizariam. O melhor projeto é a amizade.
No mais, redigi uma matéria sobre podcasts de true crime ao Suplemento de Pernambuco. A pesquisa foi uma delícia de fazer. Mas minha pergunta inicial, um pouco incômoda, qual o motivo de gostarmos tanto de desvendar crimes?
⭐ Cursos de escrita criativa
Estão abertos meus cursos semestrais de escrita criativa! São poucas vagas, online e naquele esquema cuidadoso de turmas pequenas. Escrita de Não Ficção | Sábados, 9h Ateliê de Narrativas | Sábados, 11h Ateliê de Poesia | Segundas, 19h30. Se puder repassar a pessoas interessadas, agradeço!
⭐ Outros cursos
Luchas y memoria en el arte latinoamericano: ministrarei um seminário de doze aulas para a CLACSO - Conselho Latino-americano de Ciências Sociais, a respeito de experiências artísticas de resistência em diferentes linguagens, dos anos de 1970 até hoje. [inscrições e programa]
Pós-Graduação em Escrita Criativa e Editoração na Belas Artes: serei docente de uma das disciplinas desse curso novo da Belas Artes, elaborado com muito afinco e dedicação. [apresentação]
Bom, essa foi a newsletter de março.
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Obrigada pela leitura e... até a próxima! ❤️