📚 Ecologia e literatura: imaginários sobre a mudança
Detalhes sobre o projeto Filamentos, com dicas de leitura e reflexões sobre esses temas fundamentais
Pensar a Mudança é urgente. E a imensidão desse chamado não pode ser feita de forma solitária, dada sua complexidade e sua extensão.
A partir dessas ideias, a editora Bandeirola e eu organizamos um projeto que mora no meu coração: Filamentos — Ecologia e Literatura. Durante 2022, conseguimos reunir um grupo muito bonito de pessoas interessadas, com debates mensais, uma newsletter e um canal de diálogo. Agora, a Sandra Abrano, editora, e eu estamos muito animadas para as atividades deste ano!
A newsletter de hoje é voltada a divulgar o programa de 2023, contar como foi nosso Festival Filamentos, com o título “Água e imaginação no Antropoceno”, e deixar dicas de livros potentes e criativos.
Agradeço muito se puder repassar a edição a pessoas interessadas!
Filamentos, um programa inspirado para 2023
Nas atividades do Filamentos, há sempre um encontro mensal. A bibliografia está organizada em duas vertentes: uma obra de não ficção e uma narrativa para debate. Cada participante decide o que quer ler em seu tempo, não sendo necessária a leitura prévia.
Os encontros acontecem aos sábados, on-line, das 14h às 15h30.
Ficam gravados para quem quiser assistir depois.
Calendário
25 de fevereiro: Água, terra e memória
Futuro ancestral, de Ailton Krenak; Cidades afundam em dias normais, de Aline Valek
18 de março: Mudança, metamorfose e estranhamento
“Ficar com o problema: Antropoceno, Capitaloceno, Chthuluceno”, artigo de Donna Haraway; Aniquilação, de Jeff VanderMeer
15 de abril: A alteridade e a malha
O pensamento ecológico, de Timothy Morton; conto “Semente”, de Illiana Vargas
20 de maio: Utopias realistas
A parábola do Semeador, de Octavia Butler; “Conversatório sobre o Bem Viver”, entrevista com Mario Rodríguez Ibáñez
24 de junho: A flor furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio
“Begônia”, novela de Daniel Galera; O cogumelo no fim do mundo, de Anna Tsing
Em julho: Um estranho tão familiar
Lançamento do livro de George Amaral pela Bandeirola.
Haverá outros livros no segundo semestre, como Viajantes do abismo, de Nikelen Witter, mas a bibliografia só será divulgada após alguns encontros. Essa programação está sujeita a alterações.
Assine: www.catarse.me/filamentos2023
Água e imaginação no Antropoceno
Em janeiro, organizamos o Festival Filamentos, com as presenças do pesquisador André Araújo, da oceanógrafa Adriana Lippi e da cineasta e escritora Saskia Sá. Assim, conseguimos comentar a questão da água da literatura ao cinema, da oceanografia à filosofia.
Impossível resumir aqui a riqueza dos debates. Mas trago links e ideias centrais, caso você queira ler sobre os assuntos depois.
O que morre quando um rio morre? Rios são vivos? A partir das ideias de Ailton Krenak em “Futuro ancestral”, o André Araújo comentou a questão das águas em sua cidade natal, Porto Alegre — por exemplo, sobre como a denominação do rio foi alterada, antes Jacareí para Arroio Dilúvio. Também trouxe a perspectiva de Anna Tsing ao falar sobre ecossistemas perturbados e de entes viventes que vicejam nas ruínas. Abordou o conto “Sob a água negra”, da argentina Mariana Enriquez, que recria ficcionalmente um caso verídico no Rio Riachuelo para tratar da poluição e das ameaças sofridas pela população empobrecida da região (o conto está no livro As coisas que perdemos no fogo):
“Um dos dez locais mais poluídos do planeta, quem diria, é o rio Riachuelo, que margeia a capital pranteada por Borges. É ele, de certa forma, o protagonista do conto “Sob a água negra”, dos mais impressionantes dentre as doze narrativas curtas. Uma promotora investiga o assassinato de dois jovens da favela da ponte Moreno, no sul da cidade. Tudo indica que foram espancados por policiais e lançados às águas venenosas do Tietê portenho. Ela conhecia bem a favela, que visitara várias vezes por causa de um processo penal contra um curtume que atirava dejetos no Riachuelo.” — trecho da resenha de Daniel de Mesquita Benevides à Quatro Cinco Um
O André Araújo mantém a Espeluznante, já indiquei antes, mas nesta edição você pode ler sobre o horror latino-americano contemporâneo.
A oceanógrafa Adriana Lippi trouxe considerações sobre as massas de águas que recobrem nosso Planeta, até hoje objeto de mistério e fascinação, além de serem caminhos para a circulação internacional de mercadorias e pavimentos para cabos da Internet. Apresentou a beleza das diatomáceas, que a levaram longe em suas pesquisas. Comentou os efeitos da mudança climática em manguezais e em pradarias marinhas, locais fundamentais para o armazenamento de carbono.
A Adriana possui vários veículos de divulgação científica, os links estão no Espraiada. Convido você a conhecer a Liga das Mulheres pelo Oceano e escutar o episódio Oceano, do podcast Planeta A, com a Adriana como convidada.
A cineasta e escritora Saskia Sá fechou nosso encontro, após assistirmos ao emocionante Rio das lágrimas secas, curta sobre a catástrofe do Rio Doce. Saskia contou como elegeu o percurso do rio, de Bento Rodrigues, o epicentro da destruição, passando pela Aldeia Krenak, até a foz, na cidade litorânea de Regência, para narrar a tragédia a partir das vozes de mulheres. Uma das cenas mais marcantes do filme, a fala da pescadora que foi se despedir do rio, ao saber que os dejetos vinham descendo leito abaixo, até agora embarga minha garganta.
A Saskia logo mais publicará “Horizonte líquido”, um livro pela editora Urutau. Você pode acompanhar seus trabalhos aqui.
📚 Sorteio: O pensamento ecológico, Timothy Morton
Até amanhã, sábado, 11/2, 14h, estarei sorteando um exemplar de “O pensamento ecológico”, de Timothy Morton (trad. Renato Prelorentzou). Tive a honra de fazer a orelha do livro e, em parceria com a editora Quina, vamos realizar o sorteio. Segue um trechinho de minha orelha:
“Imaginar a escala. Esse é um dos desafios do debate ecológico que esta obra de Timothy Morton procura resolver. Como imaginar 4,5 bilhões de anos? Como testemunhar o Sexto Evento de Extinção em Massa? Como existir diante dessas enormidades? No lugar de paralisar, sua filosofia convida-nos a mergulhar na arte e apresenta um conceito maravilhoso em seu pensamento ecológico: a malha.”
É uma das obras adotadas no Filamentos.
Para participar do sorteio do exemplar, acesse meu Instagram: https://www.instagram.com/anarusche
Como aprendi a amar o futuro: contos solarpunk
A Plutão Livros lança a antologia internacional de contos Como aprendi a amar o futuro, reunindo gente de diferentes lugares, com organização original de Francesco Verso e Fábio Fernandes — segundo o resumo da editora, “depois de destruir o mundo milhares de vezes e hipotetizar utopias bizarras e tiranias tecnocráticas, a ficção científica surge com um pequeno núcleo de histórias solarpunk: explorando sustentabilidade ambiental, criticando o capitalismo predatório, imaginando possibilidades de uso de recursos renováveis e inclusão radical.”
Vale explorar essas histórias e prestigiar a iniciativa valorosa da Plutão!
Nos contos, estão Ana Rüsche (Brasil), Andrew Dana Hudson (EUA), Brenda Cooper (EUA), Chen Qiufan (China), Ciro Faienza (EUA-Itália), Guillermo Echeverría e T. P. Mira-Echeverría (Argentina), Gustavo Bondoni (Argentina), Ingrid Garcia (Espanha), Ken Liu (EUA), Maria Antònia Martí Escayol (Espanha), Renan Bernardo (Brasil), Sarena Ulibarri (EUA) e Sylvie Denis (França). Para dar conta, o time de tradução foi extenso e contou com André Caniato, Fernanda Castro, Jana Bianchi, Lina Machado, Marina Scardoelli, Morgana Feijão e Thiago Ambrósio Lage.
O e-book está disponível para aquisição aqui.
Sábados de Escrita
Estão no ar os quatro sábados de escrita do semestre, uma atividade gratuita com contribuições voluntárias.
O primeiro é amanhã, 11 de fevereiro, das 9h às 10h30.
Inscrições via Sympla
Muito obrigada!
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Meu muito obrigada para quem lê e recomenda a Anacronista 💚
Todo poder à alegria, ao desejo e à imaginação!
Ana, que baita bibliografia essa da Filamentos! Só as escolhas das obras já é um belíssimo trabalho. Fiquei morrendo de vontade de ler tudo o que ainda não li. Vida longa pro projeto
Haja fôlego. A gente embarca junto.