“Carga viva”: a morte, a vida e a política 📚
O famoso romance novo. O que li durante a pandemia. A lição de Raúl Zurita: cantar amores desaparecidos.
Olá,
O ano mal começou e já afirmo: essa é uma das mais importantes edições da Anacronista: finalmente venho trazer mais detalhes sobre meu romance novo, o Carga viva.
Um livro só se completa com a comunidade leitora, quem está do outro lado da página. Agora, tudo que era palavra solta, começa a tomar forma, ganhar corpo.
Assim, muito obrigada por estar comigo nesses dias tão marcantes.
Com carinho,
Ana Rüsche
Carga viva
Romance, em pré-venda com edição física e e-book
Editora Rocco, 216 páginas
Primeiros lançamentos
Brasília, Livraria Circulares, 25 de abril, sexta-feira, às 19h
São Paulo, Livraria da Tarde, 8 de maio, quinta-feira, às 19h
Primeiras notas na imprensa:
O Globo, coluna Ancelmo Gois. Ana Rüsche lança 'Carga viva' pela Rocco. 2 de abril
Platô BR, Coluna Guilherme Amado. Ana Rüsche e um romance que une poesia, crise política e mudança climática. Por Giovanna dos Santos, 6 de abril de 2025
Estado de Minas. Carga viva, de Ana Rüsche, publicado pela editora Rocco, mistura poesia, mudança climática e momentos marcantes da política brasileira desde os anos 1980. Por Giovanna dos Santos, 6 de abril de 2025
Jornal Nota. “Carga Viva”, de Ana Rüsche, entrelaça poesia, crise climática e ecos da redemocratização brasileira. Por Bia Fonseca, 8 de abril de 2025
E no perfil do Sem Spoiler (@semspoiler.com), no Bluesky 🩵
Agradeço muito a equipe da Rocco, assim como a assessoria da Pevi 56, que me ajudam nessa difusão.
Carga viva: a morte, a vida e a política
Sobre o papel do poeta
Dizem que a arte não tem função. E nem tem que ter.
Contudo, meus planetas no signo de Virgem, o signo da gaveta de calcinhas bem arrumada e das soluções práticas, discordam dessa máxima quando estou digitando deste lado da tela. Assim, compartilho algumas ideias que rondaram a escrita desse novo romance.
Canto a amores desaparecidos
Raúl Zurita, poeta chileno, escreveu um livro que me marcou: Canto a su amor desaparecido, na tradução mais rasteira, “um canto a seu amor desaparecido”. Um lamento ao teu amor que se foi. Um longo poema dedicado às pessoas que perderam seus amores para a ditadura.
Penso muito nessa formulação zurítica, a do poeta cantar a dor de outras pessoas. Emprestar sua voz para expressar o luto alheio. Que, no seu corpo expandido de poeta, não se separa da própria.
O corpo poético da voz política.
Acerto de contas
As mortes provocadas por vírus nos anos de 1985 e 2020 terminaram um pouco apagadas. Por suas intercorrências históricas, esquecemos que poderiam ser evitadas, que foram mortes políticas.
Quem perdeu, jamais esquece. Mas ao redor, as cores ficam um pouco borradas. Pudera, nessas latitudes, a lógica é tratar tudo isso como banal, a exemplo de outras partidas, igualmente ditadas por ideologias, como causadas por tiroteios, por fome, por desmazelo.
Quando a pandemia bateu, entendi que precisava criar um dispositivo assim, zurítico. Aproximar duas gerações, tão próximas e tão diferentes. A primeira, em 1985, quase voltando a sentir o gosto da democracia com as Diretas Já, mas amargando ainda um processo lento de reabertura. A segunda, em 2020, trancada, se tivesse sorte, sob o regime da morte evitável, da cloroquina, do aglomeramento com motociatas rondando a falta de ar.
O livro então é um acerto de contas por quem não perdi. Emprestar o corpo para cantar a dor alheia. Que sempre se confunde com a minha própria. A dor é política.
A vida, essa bandida
Apesar de toda a ameaça de tristeza para embolorar as páginas, queria muito que o livro tratasse da vida. Afirmar a possibilidade da alegria. As coisas belas que viveremos. A vibração de um dia ensolarado.
A potência desse mundo deslumbrante que nos cerca.
A pergunta mais difícil
Até agora, a pergunta mais difícil sobre o livro foi a seguinte:
“Se tivesse de escolher um emoji pra representar a história, qual seria?”
Escolhi este: 🌊
A segunda pergunta mais difícil (e ainda sem resposta)
Outra solicitação para explicar o Carga viva: o livro pode ser comparado com qual outra obra conhecida? “Tem uma distopia tipo O conto da Aia? Tem androides, tipo Blade Runner?”. Ainda não sei.
Poderia dar minhas referências, o que não ajuda muito. É igual fazer uma lista de ingredientes para explicar o sabor de um prato — pode até dar a ideia do que seja, mas seria melhor mesmo trazer uma comparação. Creio que, em breve, com as leituras de outras pessoas, vou conseguir responder.
Ingredientes
Dando a resposta errada, cito algumas leituras úteis.
Uso o recurso de criar uma história alternativa, mas muito menos imaginativa do que O homem do castelo alto, do Philip K. Dick. Me ajudou também ter lido algumas vezes o romance histórico Tituba, da Maryse Condé.
Há uma substância insólita, resultado de muita leitura sobre cogumelos e sonhos/sono, cito os belos livros A trama da vida, de Merlin Sheldrake e O oráculo da noite, de Sidarta Ribeiro.
Sobre HIV/Aids, a pesquisa foi brutal, pois descobri que sabia pouquíssimo. Procurei seguir as lições da Susan Sontag sobre representação de pessoas enfermas. De tudo que li, recomendo com mais urgência A doença e o tempo, de Eduardo Jardim.
Li muito João Silvério Trevisan. Em especial, o Pai, Pai.
A Espiral, newsletter da Lalai Persson, me ajudou a criar uma personagem, uma editora de podcast, que sonha ir dançar no Berghain, casa noturna em Berlim.
Muita poesia. Fui de clássicos dos anos 1980 a umas obras clássicas alemãs. Nem digo mais para você não achar chato. Juro que tudo se amarra.
É isso. Agora é esperar que faça sentido a quem estiver do outro lado da página. Agradeço toda força que você possa dar a esse sonho acordado chamado livro.
Sincrônicas
A Francesca Cricelli e eu estamos numa empreitada zurítica. Ainda não podemos dizer muito, mas o escritor chileno andou rondando nossas conversas. Separei uma edição da newsletter da Fran para você a conhecer: Sonhos e metamorfoses: Emanuele Coccia, minhas tatuagens e o casamento mundano
Uma das edições da newsletter da Lalai Persson que me ajudou: “Espiral #59: O Berghain e sua influência na cena da música eletrônica”
A Mariana Delfini tratou sobre os escritos da Susan Sontag, sobre as metáforas de adoecer: “O corpo da mulher como metáfora”
Para fechar, segue uma dose de Punk Yoga, e viva o monte de coisa o Nathan Fernandes encontra por aí: “Foucault tomando LSD, pássaros exóticos & o que fazer antes do fim do mundo”
Anacrônicas
📚 Quimeras do agora: Literatura, ecologia e imaginação política no Antropoceno, meu livro de crítica literária está em pré-venda no site da editora Bandeirola.
📚 Junto com ele há o Filamentos: leituras ecológicas comentadas. Já foram para a gráfica e logo chegam em outros lugares. Saiba mais+
Para produzir esta edição
Foram necessários muitos anos de escrita e pesquisa para chegar nesta sexta-feira de hoje.
E o apoio inestimável de muita gente, desde quem leu o original, dando várias contribuições fundamentais; até quem me ouviu chorando pitangas no bar para não desistir de encontrar a casa certa para o original.
Foi de correção histórica (não tinha sido lançado o chiclete sabor melancia em 1985) a me ajudar a suprimir personagem sem função. Viva a força da amizade.
Queria agradecer, em especial, o Lucas de Sena, meu editor, cuidadoso e bem humorado. O Lucas foi quem encontrou, junto ao designer Bruno Moura, a capa com que eu sonhava, mas ainda não tinha visto.
Agradeço a todas as pessoas que se dispuseram a comprar o livro na pré-venda. Isso nos ajuda demais. Espero encontrar vocês ao longo do ano para dar um abraço.
Muito obrigada!
Deixe um comentário, vamos conversar :)
🧡 Qual o ícone dos anos 1980 não poderia faltar no teu “Carga viva”?
🧡 Perguntas binárias: a playlist para enganar na musculação é a de 1985 ou 2020?
🧡 Aleatória: se você também tivesse planetas no signo de virgem, qual a função da poesia?
Carga viva
Romance, em pré-venda com edição física e e-book
Editora Rocco, 216 páginas
Canais
Telegram: https://t.me/criatividade
Instagram: @anarusche
Na próxima edição: timeline, a linha do tempo, a linha da vida
A última edição do especial A escrita e a máquina, voltada a pensarmos, de forma prosaica, o impacto das Inteligências Artificiais no cotidiano.
Ana, a capa está maravilhosa!!! Não conseguirei ir ao lançamento por motivos de duas bebês mas estou desde já torcendo muito por vocês 🥰🌊🌊🌊🌊
Eu estou muito feliz, tão bom te ler e já garantindo o meu em pré-venda!